quarta-feira, 30 de abril de 2008

Amar-te

Não te amo como se fosses rosa de sal,
topázio ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floresce
e leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças ao teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando,
nem onde, amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és,
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha,
tão perto que se fecham seus olhos com meu sonho."

Pablo Neruda

terça-feira, 29 de abril de 2008

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Há dias


Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo
quero eu dizer :
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.

Eugénio de Andrade

domingo, 27 de abril de 2008

Pesos e medidas


Como se mede uma pessoa?
Os tamanhos variam conform
o grau de envolvimento
Ela é enorme pra você quand
fala do que leu e viveu
quando trata você com carinho e respeito
quando olha nos olhos e sorri destravado
É pequena pra você quando só pensa em si mesmo
quando se comporta de uma maneira pouco gentil,
quando fracassa justamente no moment
em que teria que demonstra
o que há de mais important
entre duas pessoas: a amizade
Uma pessoa é gigante pra você
quando se interessa pela sua vida,
quando busca alternativa
para o seu crescimento
quando sonha junto
É pequena quando desvia do assunto
Uma pessoa é grande quando perdoa
quando compreende
quando se coloca no lugar do outro
quando age não de acordo com o que esperam dela
mas de acordo com o que espera de si mesma
Uma pessoa é pequena quando se deix
reger por comportamentos mesquinhos
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza
ou miudeza dentro de um relacionamento
pode crescer ou decresce
num espaço de poucas semanas
será ela que mudou ou será que o amor
é traiçoeiro nas suas medições?
Uma decepção pode diminui
o tamanho de um amor que parecia ser grande
Uma ausência pode aumentar
o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo
É difícil conviver com esta elasticidade
as pessoas se agiganta
e se encolhem aos nossos olhos
Nosso julgamento é feito não atravé
de centímetros e metros, mas de acções e reacções
de expectativas e frustrações
Uma pessoa é única ao estender a mão
e ao recolhê-la inesperadamente
se torna mais uma
O egoísmo unifica os insignificantes
Não é a altura, nem o peso
nem os músculos que tornam uma pessoa grande
É a sua sensibilidade sem tamanho.

sábado, 26 de abril de 2008

sexta-feira, 25 de abril de 2008

terça-feira, 22 de abril de 2008

Planeta Terra

Amá-la e preservá-la.

Eis a nossa missão.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Caminhos da vida


A vida tem cores que por vezes não percebemos,tem sons que nem sempre ouvimos,tem sabores que não provamos,armadilhas que nós mesmos armamos,e caminhos, muitos caminhos,que ainda não percorremos.

Falta-nos tempo para apreciar os detalhes.Assim, deixamos o tempo, precioso tempo,escorrer pelos dedos da mão.

Filhos que crescem e não percebemos,amores que vão se desfazendo,caindo na rotina massacrante,e não percebemos.

Envelhecemos e abandonamos nossos sonhos,passamos pela vida e reclamamos,um ano começa e quando vemos,já acabou sem ao menos termos vivido.

Nossas orações são ladainhas repetidas,expressões vazias da nossa desilusão,Deus no trono distante,nós na Terra errante...

Não há mais tempo para a vida,apenas para os compromissos inadiáveis
da nossa agonia,somos empurrados pelo consumismo,somos esmagados pelas dívidas,
pelo preço de viver.

Na luta diária da sobrevivência não há tempo:para poesia, flores, sentar no chão,andar descalço, comer com a mão,namorar na praça, andar sem direcçãoter com Deus uma comunhão...

Estamos fugindo do encontro crucialentre nós e os nossos sonhos,entre o que queremos e o que não temos,entre o que imaginamos e o que é.

E fica no ar a pergunta:para onde vamos?

Que tu vás rumo a felicidade,descobrindo que a vida é um presente sem igual,que Deus oferece para alguém especial,sentindo a brisa da manhã que convida,para a vida que se abre em flor,desejando para ti:muita paz e muito amor
.
(Autor desconhecido)

domingo, 20 de abril de 2008

Silêncios


Laços


O que é que «estar preso» quer dizer?
- É uma coisa que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
-Laços?
-Sim, laços – disse a raposa – Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser o único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes aborreço-me um bocado. Mas se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol.


in "O Principezinho", Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Annie Lennox

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As regras da sensatez


Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz.

Por muito que o coração diga não faças o que ele diz.

Nunca mais voltes à casa, onde ardeste de paixão.

Só encontrarás erva rasa por entre as lajes do chão.

Nada do que por lá vires será como no passado.

Não queiras reacender um lume já apagado.

São as regras da sensatez, vais sair a dizer que desta é de vez.


Por grande a tentação que te crie a saudade,

Não mates a recordação que lembra a felicidade.

Nunca voltes ao lugar onde o arco-íris se pôs,

Só encontrarás a cinza que dá na garganta nós.


São as regras da sensatez vais sair a dizer que desta é de vez

Carlos Tê

domingo, 13 de abril de 2008

Conversas com Deus

Imagem enviada pelo correio

"Há muitas ocasiões na vida em que agradar a outra pessoa te agrada a ti também. Nesse caso vai em frente. Só não deves fazê-lo quando agradar a outra pessoa não te agradar a ti.
Agradar a outra pessoa vai agradar-te sempre que tu e ela partilharem o mesmo interesse pessoal. Ou seja, quando quiserem ambos a mesma coisa.

O truque é ver aquilo que a outra pessoa quer, e aquilo que tu queres, e examinar atentamente ambas as coisas. Se as examinares muito atentamente, ficarás surpreendido com a quantidade de vezes que, naquilo que a outra pessoa deseja, podes descobrir algo que também tu desejas.
É na descoberta destas áreas de interesse comum que se dá a eliminação da pressão “má”.

Quando se descobrem pontos comuns, a raiva perde pontos.
De repente, percebes que estás a fazer determinada coisa não porque outra pessoa quer que tu a faças, mas porque tu queres fazê-la, por razões que são tuas."
Vale a pena meditar nisto...

Neale Walsch

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Janelas


Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.

António Gedeão

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Simon and Garfunkel

O som do silêncio

Lembra-te que os silêncios guardam segredos. E, por isso, o som mais doce é o som do silêncio.
A canção da alma pode ser cantada de muitas maneiras.
Alguns ouvem o silêncio na oração.Outros buscam os segredos em serena contemplação, outros até em ambientes menos contemplativos.
Quando a mestria é alcançada, os ruídos do mundo podem ser abafados e as distracções silenciadas mesmo no meio deles.
Toda a vida se torna uma meditação.

Neale Donald Walsch

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Pensando


Quem como eu em silêncio tece
Bailados, jardins e harmonias?
Quem como eu se perde e se dispersa
Nas coisas e nos dias?

Sophia de Mello Breyner Andreson

Linha quatro

No largo da Mutamba às seis e meia
carros pra cima carros pra baixo
gente subindo gente descendo
esperarei.

De olhar perdido naquela esquina
onde ao cair da noite a manhã nasce
quando tu surges
esperarei.

Irei pr'á bicha da linha quatro
Atrás de ti. (Nem o teu nome!)
Atrás de ti sem te falar
só a querer-te.

(Gente operária na nossa frente
rosto cansado. Gente operária
braços caídos sonhos nos olhos.

Na linha quatro eles se encontram
Zito e Domingas. Todos os dias
na linha quatro eles se encontram.

No maximbombo da linha quatro
se sentam juntos. As mãos nas mãos
transmitem sonhos que se não dizem.)

No maximbombo da linha quatro
conto meus sonhos sem te falar.
Guardo palavras teço silêncios
que mais nos unem.

Guardo fracassos que não conheces
Zito também. Olhos de cinza
como Domingas
o que me ofereces!

No maximbombo da linha quatro
sigo a teu lado. Também na vida.
Também na vida subo a calçada
Também na vida!

Não levo sonhos: A vida é esta!
Não levo sonhos. Tu a meu lado
sigo contigo: Pra quê falar-te?
Pra quê sonhar?

No maximbombo da linha quatro
não vamos sós. Tu e Domingas.
Gente que sofre gente que vive
não vamos sós.

Não vamos sós. Nem eu nem Zito.
Também na vida. Gente que vive
Sonhos calados sonhos contidos
Não vamos sós.

Também na vida! Também na vida!

Mário António
Poeta angolano

terça-feira, 8 de abril de 2008

domingo, 6 de abril de 2008

Dez reis de esperança



Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,

roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

António Gedeão

sábado, 5 de abril de 2008

Para atravessar contigo o deserto do mundo


Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sementeira


Cresce a semente
lentamente
debaixo da terra escura.

Cresce a semente
enquanto a vida se curva no chicomo
e o grande sol de África
vem amadurecer tudo
com o seu calor enorme de revelação.

Cresce a semente
que a povoação plantou curvada
e a estrada passa ao lado
macadamizada quente e comprida
e a semente germina
lentamente no matope
imperceptível
como um caju em maturação.

E a vida curva as suas milhentas mãos
geme e chora na sina
de plantar nosso suor branco
enquanto a estrada passa ao lado
aberta e poeirenta até Gaza e mais além
camionizada e comprida.

Depois
de tanga e capulana a vida espera
espiando no céu os agoiros que vão
rebentar sobre as campinas de África
a povoação toda junta no eucalipto grande
nos corações a mamba da ansiedade.

Oh! Dia de colheita vai começar
na terra ardente do algodão!

José Craveirinha
(Poeta moçambicano)

Motivos


terça-feira, 1 de abril de 2008

Aceita-me da maneira que sou...


Aceita-me da maneira que venho...
Eu cheguei até ti,assim,
desse jeitinho que sou,
Por isso não trago manchas,
Sou uma pessoa comum,
entre tantas outras...
Tenho a sensibilidade do amor
e tenho também todas as dificuldades de um ser humano...
Não tenho a pretensão de ser perfeita
e nem tampouco a prepotência
de querer estar além do que posso...
Tenho contudo,
a humildade de conhecer meus limites,
e de saber onde posso chegar!!!
Sou alguém, que sofre, que luta, que chora...
Mas também sou alegria e sorrisos...
É assim que sou, e como todas as pessoas,
e se você me procurar dentro de mim,
e se olhar bem devagarinho,
bem direitinho dentro de mim,
verá que sou toda coração
e que sou feliz por você existir
tornando os meus dias
felizes com o seu carinho.

(Pablo Neruda)