domingo, 31 de maio de 2009

Pequeno poema

Tela de Diji Scales


Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente, esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
Bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe.

Sebastião da Gama

sábado, 30 de maio de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vem hoje um cheiro tão bom lá de fora do mundo!


Vem hoje um cheiro tão bom lá de fora do mundo!
Um cheiro a esponsais de primavera
com deusas de astros na fronte
e enlaces de folhas de hera
no cabelo voado...

( Ah! Se eu encontrasse a ponte
que vai para o outro lado!)

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Amizade



A amizade não se procura,

não se imagina, Adicionar imagem

não se deseja;

exercita-se (é uma virtude)


Simone Weil

terça-feira, 26 de maio de 2009

A vida é...



A vida é feita de nadas
De grandes serras paradas
À espera de movimento

Miguel Torga

segunda-feira, 25 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Aromas e cheiros


Envolvo num murmúrio as flores
que o verso me dá. As pétalas
têm a cor dos lábios que
as cantam; e o pólen sabe ao mel
dos dedos que as colheram,
uma tarde, enquanto o sol
descia sobre os ombros nus
das colinas. Pisei-as com os pés
da estrofe, e o vinho do amor
destilou de um mosto de
sensações. Bebo-o do copo
do teu corpo; e uma embriaguez
de rosas alastra na vinha
do poema.

Nuno Júdice

Triste - Elis Regina

sábado, 23 de maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

As mãos


As mãos
são a paisagem do coração.
Elas se separam às vezes
como desfiladeiros
para que forças indescritíveis rolem.

A mesma mão que o homem
apenas abre quando cheia de fadiga,
agora ele percebe:
por causa dele somente,
outros podem caminhar em paz...

Mãos são como paisagem.
Quando se abrem,
a dor de suas mágoas
corre livre como riacho.
Porém, sem sentimento de dor...
sem grandeza de dor...
Apenas para sua própria
maravilha de grandeza
Ele não conhece a forma
de nomear a mesma.


Andrzej Jawien
(pseudónimo literário de João Paulo II
)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Nascimento



" O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança:

tudo começa com um ato de amor.

Uma semente há-de ser depositada no ventre vazio.

E a semente do pensamento é o sonho.

Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber,

deveriam ser especialistas em amor:

intérpretes de sonhos."


Rubem Alves

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Rui Veloso VS B.B King



Grande Rui...tocar assim junto do mestre é obra

terça-feira, 19 de maio de 2009

a qualquer momento...



Amar é ter um pássaro pousado no dedo.

Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,

a qualquer momento, ele pode voar”

segunda-feira, 18 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

Somos como árvores


Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
Só então nos lembramos
que dezembro traz em si a primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.

Eugénio de Andrade

Felicidade


Balance

sábado, 16 de maio de 2009

A voz da tília


Diz-me a tília a cantar:" Eu sou sincera,
eu sou isto que vês: o sonho, a graça,
deu ao meu corpo o vento, quando passa,
este ar escultural de bayadera...

E de manhã o sol é uma cratera,
uma serpente de oiro que me enlaça...
Trago nas mãos as mãos da Primavera...
E é para mim que em noites de desgraça

toca o vento Mozart, triste e solene,
e à minha alma vibrante, posta a nu,
diz a chuva sonetos de Verlaine..."

E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
"Já fui um dia poeta como tu...
Ainda hás-de ser tília como eu sou..."

Florbela Espanca

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Nuvens sobre a floresta


Nuvens sobre a floresta
Sombra com sombra a mais...
Minha tristeza é esta -
A das coisas reais.

A outra, a que pertence
Aos sonhos que perdi,
Nesta hora não me vence,
Se a há, não a há aqui.

Mas esta, a do arvoredo
Que o céu sem luz invade,
Faz-me receio e medo...
Quem foi minha saudade?

Fernando Pessoa

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Folhinha


Murchou a flor aberta ao sol do tempo.
Assim tinha de ser, neste renovo
Quotidiano,
Outro ano,
Outra flor,
Outro perfume.
O gume
Do cansaço
Vai ceifando,
E o braço
Doutro sonho
Semeando.

É essa a eternidade:
A permanente rendição da vida.
Outro ano,
Outra flor,
Outro perfume,
E o lume
De não sei que ilusão a arder no cume
De não sei que expressão nunca atingida.



Miguel Torga

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A uma árvore qualquer



De dia, entre os veludos e entre as sedas,
Murmurando palavras aflitivas,
Vagueia nas umbrosas alamedas
E acarinha, de leve, as sensitivas.

Fosse eu aquelas árvores frondosas,
E prendera-lhe as roupas vaporosas!



Cesário Verde

terça-feira, 12 de maio de 2009

Creio no mundo...


(...)

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

Alberto Caeiro

domingo, 10 de maio de 2009

O mar começa...

Tela de Michael e Inessa Garmash


O mar começa onde as crianças crescem
mas tenho ainda de procurar a pedra
próxima do silêncio onde dormir.

Eugénio de Andrade


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Pequena folha


Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi; não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda

quinta-feira, 7 de maio de 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

Devias estar aqui

Tela de Leonid Afremor


Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum...


Eugénio de Andrade

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não digas nada!


Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa

domingo, 3 de maio de 2009

Arte e beleza

Poema à Mãe



No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...


Eugénio de Andrade

sexta-feira, 1 de maio de 2009