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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

...Feliz dia para quem é

 


...Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!
Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver
Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!
Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia
De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!

Fernando Pessoa

domingo, 12 de setembro de 2010

Saudades de saudades...


A luz desmaia num fulgor d’aurora,
Diz-nos adeus religiosamente…
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui… outrora…
E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho…
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive…


Fernando Pessoa

sábado, 11 de setembro de 2010

a vida que é vivida....



Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Esse rio sem fim

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Os teus olhos entristecem

Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Entre dois mundos...




"Minha atenção balança entre dois mundos

e vê cegamente a profundeza de um mar

e a profundeza de um céu;

e estas profundezas

interpenetram-me, misturam-se,
e eu não sei onde estou nem que sonho."

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Se...


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A vida é assim!



Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis!

Fernando Pessoa

domingo, 19 de julho de 2009

Não és mais que a brisa...



Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para afins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar de estar olhando
Olha não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

Fernando Pessoa

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Nuvens sobre a floresta


Nuvens sobre a floresta
Sombra com sombra a mais...
Minha tristeza é esta -
A das coisas reais.

A outra, a que pertence
Aos sonhos que perdi,
Nesta hora não me vence,
Se a há, não a há aqui.

Mas esta, a do arvoredo
Que o céu sem luz invade,
Faz-me receio e medo...
Quem foi minha saudade?

Fernando Pessoa

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não digas nada!


Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa

sábado, 11 de abril de 2009

Abdicação


Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Indecisão


Não sei que flores te dar

Para os dias da semana.

Tens tanto sonho no olhar

Que o teu olhar sempre engana.


Fernando Pessoa

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

As borboletas


Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Já muito antes


Quando te vi amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Oiço como se o cheiro...


Oiço, como se o cheiro
De flores me acordasse...
É música - um canteiro
De influência e disfarce.
ImpaIpável lembrança,
Sorriso de ninguém,
Com aquela esperança
Que nem esperança tem...

Que importa, se sentir
É não se conhecer?
Oiço, e sinto sorrir
O que em mim nada quer.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Somos o sonho do Sol, do ser que é:Deus


A outra
face da lua
não está oculta,
está aqui.
O que não vemos,
é o que agora
vivemos:
o que o homem ignora
é aquele que o sonha.
No lado escuro da lua
está o menino que dorme
e deseja que o mundo
brinque ao amor: acorde!

Fernando Pessoa

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Chove.É dia de Natal


Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

sábado, 13 de dezembro de 2008

Natal...Na província neva


Como no longe
europeu,
Natal -
mas na província não neva,
nem arde o fogo
nas lareiras,
nem a estrela dos Reis Magos
brilha neste céu.

Idênticos,
Só mesmo a solidão
e o cansaço.

- E toda a esperança,
como nas terras onde neva,
se perdeu.

Fernando Pessoa

domingo, 30 de novembro de 2008

Já muito antes


Quando te vi amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.

Fernando Pessoa