Mostrar mensagens com a etiqueta Miguel Torga. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Miguel Torga. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

sábado, 14 de novembro de 2009

A minha aguerrida teimosia



Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Miguel Torga

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Recomeça ...

Tela de Leonid Afremov


Recomeça ...

Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

Miguel Torga

domingo, 25 de outubro de 2009

O meu amor existe...



Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Miguel Torga

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Viagem


Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...

(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).

Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

Miguel Torga

terça-feira, 21 de julho de 2009

Falo da natureza.


Falo da natureza.
E nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras,
A frescura das fontes,
O perfume das flores.

Miguel Torga

sábado, 20 de junho de 2009

Tarde demais


(...)

A vida disse que era
tarde demais.
E que as paixões tardias
são ironias
dos deuses desleais.

Miguel Torga

terça-feira, 26 de maio de 2009

A vida é...



A vida é feita de nadas
De grandes serras paradas
À espera de movimento

Miguel Torga

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Folhinha


Murchou a flor aberta ao sol do tempo.
Assim tinha de ser, neste renovo
Quotidiano,
Outro ano,
Outra flor,
Outro perfume.
O gume
Do cansaço
Vai ceifando,
E o braço
Doutro sonho
Semeando.

É essa a eternidade:
A permanente rendição da vida.
Outro ano,
Outra flor,
Outro perfume,
E o lume
De não sei que ilusão a arder no cume
De não sei que expressão nunca atingida.



Miguel Torga

sábado, 21 de março de 2009

Dia da árvore


A um carvalho

Eis o pai da montanha, o bíblico MoisésVegetal!
Falou com Deus também,
E debaixo dos pés,
inominada, tem
A lei da vida em pedra natural!

Forte como um destino,
Calmo como um pastor,
E sempre pontual e matutino
A receber o frio e o calor!

Barbas, rugas e veias
De gigante.
Mas, sobretudo, braços!
Longos e negros desmedidos traços,
Gestos solenes duma fé constante...

Folhas verdes à volta do desejo
Que amadurece.
E nos olha a prece
Da eternidade
Eis o pai da montanha, o fálico pagão
Que se veste de neve e guarda a mocidade
No coração!

Miguel Torga

quarta-feira, 4 de março de 2009

Súplica


Agora que o silêncio é um mar sem ondas
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.


Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Adeus


É um adeus...
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus...
Agora,
O remédio é partir discretamente,
Sem palavras,
sem lágrimas,
sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer
A humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
Antes da iniquidade
Consumada,
Um poema de lírico pudor,
Um sorriso de amor,
E mais nada.

Miguel Torga

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Saudade

Tela de Michael & Inessa Garmash

Não digas,
Não acenes,
Não te lembres,
Que se mantenha mudo, hirto, e sem memória
O nosso adeus eterno.
E que o poeta, do seu negro inferno,
Cante como puder
A trágica aventura de encontrar
E perder, a sonhar,
O teu corpo aberto de mulher.

Miguel Torga

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Silêncio é o mar


Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

[...]

Miguel Torga

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Natureza falada e sentida


Falo da natureza.
E nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras,
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo, e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei
As reconheço, agora.

Miguel Torga

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Planalto


Alto céu, alta luz, alta pureza.
Ascensão da granítica aspereza
Dos homens e do chão.
Guiada pela mão
Da fome insatisfeita,
A teimosa charrua da vontade
Lavra e semeia as fragas da planura.
Mas a grande colheita
É de serenidade:
A paz azul em cada criatura.

Miguel Torga

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Súplica


Agora que o silêncio é um mar sem ondas
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Natal divino


Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.
O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…

Miguel Torga

domingo, 9 de novembro de 2008

Chuva


Chove uma grossa chuva inesperada,

Que a tarde não pediu mas agradece.

Chove na rua, já de si molhada

Duma vida que é chuva e não parece.

Chove, grossa e constante,

Uma paz que há-de ser

Uma gota invisível e distante

Na janela, a escorrer...


Miguel Torga

domingo, 9 de março de 2008

Miguel Torga


"Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...

Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...

in "Instrução primária"
Miguel Torga
Poeta português
(1907/1995)