"-Seja como o sândalo, que perfuma o machado que o fere."
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Palavras
Palavras, machucam quando não se sabe dizer.
Palavras, são favos de mel quando se sabe falar.
Palavras, não se diz porque vem da boca,
mas, porque sai da alma.
Palavras, se diz em tantas formas,
se diz com um gesto e se responde com um grito,
se diz com um sorriso e se corresponde com uma lágrima,
se diz te amo, e se pronuncia com um adeus.
Palavras, são palavras que se cortam ao vento,
são ditas e malditas palavras.
Charles Feitosa de Souza
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Amigos
Vinicius de Morais disse um dia:
"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles às vezes não os procuro, nem sei porquê! Mas preciso saber que eles existem. Esta mera condição encoraja-me a seguir em frente pela vida! Mas é delicioso que eu saiba que os adoro, embora não declare e não os procure sempre!..."
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
A um ti que eu inventei
Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.
Um pesar grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.
Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.
Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.
António Gedeão
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
domingo, 27 de janeiro de 2008
Girassol
Girassol
Rasga a tua indecisão
E liberta-te.
Vem colar
O teu destino
Ao suspiro
Deste hirto jasmim
Que foge ao vento
Como
Pensamento perdido.
Aderido
Aos teus flancos
Singram navios.
Navios sem mares
Sem rumos
De velas rotas.
Amanheceu!
Orça o teu leme
E entra em mim
Antes que o Sol
Te desoriente
Girassol!
Corsino Fortes
sábado, 26 de janeiro de 2008
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Não vale a pena pisar
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
As palmeiras
Não sei em que navio,
mas foi desses lugares
que chegaram ao meu jardim
as palmeiras.
Com o sol das areias
em cada folha,
na coroa o sopro
ainda húmido das estrelas.
Eugénio de Andrade,1994
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Não comerei da alface a verde pétala
Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
Vinicius de Moraes
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terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Canção do subúrbio
Cubatas velhas
vermelhas
do solo velho
vermelho
E a chuva tamborilando
por cima do zinco velho
E a minha velha
lavando
na velha celha
cantando
Já não há mais folhas velhas
sobre o zinco das cubatas
Umas o vento as lavou
outras são velhas canoas
sobre as vermelhas lagoas
que a chuva improvisou
e onde o neto da Ximinha
xapinha
contente e nu
Eleutério Sanches
(Tela de Neves e Sousa)
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Maracujá
Um dia
o pé de maracujá
que eu plantei no quintal
cresceu
e floriu
Eu nunca tinha visto
a flor do maracujá.
Juro por Deus nunca vi
coisa mais linda do mundo
do que a flor violeta
do pé de maracujá
que eu plantei
na cerca do meu quintal.
Um dia
o maracujá
que eu plantei no meu quintal
cresceu e floriu...
Ernesto Lara Filho
domingo, 20 de janeiro de 2008
Aguarela
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis rectas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cair num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva norte e sul
Vou com ela viajando o Havai, Pequim ou Istambul
Pinto um barco à vela branco navegando
é tanto céu e mar num beijo azul.
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
E se a gente quiser....... Ele vai pousar.
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra eu consigo passar num segundo
giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está.
E o futuro é uma astro-nave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
e depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aguarela que um dia em fim Descolorirá....
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo... (que descolorirá)
e com cinco ou seis rectas é fácil fazer um castelo... (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo. (e
descolorirá)
Vinicius de Moraes
Poeta brasileiro (1913-1980)
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Vinicius de Moraes
sábado, 19 de janeiro de 2008
Pensamento
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Oferta
Sou a quitandeira mais doce
que todos os doces de côco,
minha boca é tão docinha
como a fruta da minha quinda.
Tenho os seios para dar
duas laranjas do Loje,
tenho nos olhos pitangas
tão boas de namorar
Tenho o Sol na barriga
e doçura da manga nos braços,
quem quer a minha vida
pra adoçar os seus cansaços?
António Cardoso
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