Eu sei, não te conheço, mas existes,
por isso os deuses não existem,
a solidão existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.
Não me perguntes como mas ainda me
lembro
(...)
Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te,
não é um sonho, juro são apenas as
minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há
muito e desagua em ti.
Porque tu és o mar que acolhe os meus
destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma
outra maneira de habitares
em todas as palavras do meu canto.
Tenho construído o teu nome com todas
as coisas,
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente,
desesperadamente
à tua procura, sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.
Joaquim Pessoa
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