Apanhas do chão as palavras gastas,
como frutos podres; uma a uma,
no poema, formam a frase que
nunca imaginaste, com um sentido exacto.
E vês a árvore de onde caíram,
com as suas folhas de sílabas
e os seus ramos de verso, segredar-te
um musgo de sentimento ao ouvido.
Agora, as palavras são tuas.
Envolvem-te como a hera se agarra aos muros,
e crescem por ti dentro até à alma.
Então, colhe as palavras que te enchem,
antes que caiam como frutos podres, e
oferece-as a quem passa, no cesto do poema.
Nuno Júdice
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