segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Poesia sobre águas passadas

Tela de Jeremy Barlow

Poesia
em desencanto: a casa no canto
da paisagem
introduz o elemento
humano no horizonte.
Permanecer ao extremo tempo
ensaiando passos
dançados sobre a terra
o desengano da efemeridade
e a recorrência do bailado
sobre águas passadas.

Pedro Du Bois

domingo, 19 de setembro de 2010

sábado, 18 de setembro de 2010

Do meu jardim ofereço-te....

 
 
 
 
De meu jardim ofereço-te
pétalas,
aromas,
cores,
segredos ocultos,
pedaços de vida...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

tenho sentidos....

 


Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

as belas folhas dos plátanos...



São belas as folhas dos plátanos espalhadas no chão.
Eram verdes e lisas no apogeu
da sua juventude em clorofila,
mas agora, no outono de si mesmas,
o velho citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol,
deixou-se trespassar por afiados ácidos.


 
António Gedeão



terça-feira, 14 de setembro de 2010

se a janela se abrisse...

Tela de Raffendre


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caeiro

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Saudades de saudades...


A luz desmaia num fulgor d’aurora,
Diz-nos adeus religiosamente…
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui… outrora…
E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho…
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive…


Fernando Pessoa

sábado, 11 de setembro de 2010

a vida que é vivida....



Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

...a esta hora tudo em mim revive...



A luz desmaia num fulgor d’aurora,
Diz-nos adeus religiosamente…
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui… outrora…

E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho…
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive…

Florbela Espanca

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Também ele vai morrer...o Verão



Também ele vai morrer, o Verão.

.....Do verde ao vermelho
.....as maçãs ardem sobre a mesa.
.....Ardem de uma luz sua, mais madura.
.....E servem-me de espelho.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Esqueço o quanto me ensinaram




Deito-me ao comprido na erva.
E esqueço do quanto me ensinaram.
O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio,
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa.
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos.
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava.


Alberto Caeiro

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Exílio



No exílio de mim mesmo
passeio tranquilas saudades
em parques verdejantes. Viajo florestas
e mares. Estou na solidão da espera:
avisto navios ao longe.
Não tenho curiosidade em aportar
ao marujo e pedir noticias.
Não é minha hora de chegada.
Retorno na calmaria: ondas
maravilham a terra escorraçada,
meu corpo ilhado em pedras.

Chegar é mistério atravessado ao fio
do desencontro.

Pedro Du Bois

domingo, 5 de setembro de 2010

...num êxtase de seiva,

Abro a rosa com pétalas viradas para dentro
de mim, sugando-me o ser com os seus lábios
de veludo. E quando estou dentro da rosa, ouvindo
a música que corre ao longo do caule, num êxtase
de seiva, troco em versos o que a rosa me diz,
sentindo que a rosa se fecha, em botão, para
que o meu ser não saia de dentro dela. Então,
sei que habito o próprio centro do efémero,
enquanto as pétalas vão caindo, uma a uma,
à medida que a rosa se abre, e o sol que entra
para dentro da rosa, empurrando o meu ser
para fora do centro, corre nas suas veias,
como seiva de fogo, até fazer com que outros
botões nasçam, para que me suguem o ser, até
entre mim e a rosa não haver senão a frágil
fronteira de um espinho, em que me pico,
sentindo que a gota de sangue do meu dedo
podia ser a seiva em que a rosa nasce do ser
que a deseja, no instante efémero do amor.

Nuno Júdice


sábado, 4 de setembro de 2010

as coisas que te dou



(...)

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

...perfume do vento








O entardecer através do teu olhar,
Tem um encantamento singular.
Trazendo sempre contigo,
A eterna beleza do momento
E a suavidade do perfume do vento.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Esse rio sem fim

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 1 de setembro de 2010