terça-feira, 4 de março de 2008

Candengue

Foto:C.Pires

Quando candengue brincava,
Em frente à escola da Liga,
De esconde esconde e caçava
Janjás e rolas com fisga.

Na rua jogava à bola
Feita de meias e trapos,
Não tinha bota de sola
P´ra chutar nas rãs e sapos.

Catava lacrau nas pedras
Ou matrindinde no mato,
Saltava pelas veredas,
Sorvia a sopa do prato.

Fazia carros de lata,
Muita bola de sabão,
E beliscava a mulata
Filha do mestre Tião.

Dava mergulhos no rio,
Meu velho rio cavaco,
Não tinha calor ou frio
Nem pelugem no sovaco.

Tomava banho na selha,
Trincava dendém assado,
Fugia da mana velha
Só p’ra não fazer recado.

Passava o dia a correr
Como bicho na savana,
Lanchava pão e banana
Jantava amor e prazer.

Não tinha TV nem fax,
Retrete, bidé, chuveiro,
Lia à luz de candeeiro,
Dum bendito petromax.

Do escuro não tinha medo,
Nem pesadelo, e sonhava
Ser guerreiro, ter meu feudo,
E com princesas casava.

Inventei histórias mil,
Cresci ao sol e relento,
E ao meu céu azul anil,
Mandei recados pelo vento.

Agora…
Agora doem-me os dedos,
Fazem-me azia, os molhos,
Já me atormentam os medos
E lacrimejam-me os olhos.

Agora…
São os anos e saudades
Que me fazem velho assim…
Não enganam, são verdades,
E as rugas falam por mim!

Abgalvão

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