sábado, 28 de junho de 2008
A liga
Louva-a-deus martins agarrou o marido pela cintura, enlaçou-o ternamente, acariciou-o e fez amor com ele até atingir o orgasmo.Depois, como é natural entre os louva-a-deus, ele, submisso e resignado, entregou-se inteirinho para que ela o devorasse, e assim sucedeu: louva-a-deus martins foi retraçando o companheiro com os seus finíssimos dentes, lenta e ritualmente, até que dele nada restou, senão uma ligeira azia que a terrível amante combateu com duas ou três dentadinhas numa folha de hortelã . Ah!..., suspirou ela, que destino o meu!... amar é a minha perdição!...E, rapidamente, convocou as outras louva-a-deus para uma reunião extraordinária, que veio a realizar-se no cimo de um loureiro, de onde niguém saiu sem que ficassem aprovados os estatutos da nova-liga-feminina-para-a-defesa-dos-machos. Machistas!, gritaram no final, em coro, as não aderentes, de temperamento mais ardente ou de maior apetite. E, a partir daí. naquele imenso campo de girassóis, as louva-a-deus ficaram divididas (até quando?) em duas espécies: as que comem os machos e as que se deixam comer.
Joaquim Pessoa
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